A confiança na era digital
A digitalização avança de forma imparável num ambiente de conectividade ubíqua, interações entre semelhantes
(P2P) e no imediato. O desafio de estabelecer e manter a confiança, a segurança e a privacidade nunca foi tão grande e os meios tradicionais para tal vão sendo cada vez mais inflexíveis e ineficazes. Mas as tecnologias como o Blockchain oferecem novas formas de garantir e verificar as transações com validade legal e sem intermediários.
A origem do Blockchain
O Blockchain surgiu como um meio para estabelecer a confiança entre as partes de uma transação, dentro da moeda virtual Bitcoin. As entidades financeiras tradicionais acolheram-no com ceticismo, devido à falta de regulamentação e à relação do Bitcoin com algumas atividades do mercado negro. No entanto, o Blockchain encontra-se agora na ordem do dia, pois é visto como um meio potencial para a transformação completa dos processos existentes na banca, que poderia eliminar cerca de 20.000 milhões de dólares por ano em custos de pagamentos e de cumprimento regulamentar. O Forum Económico Mundial considera-o como uma mega tendência emergente, sendo um tema-chave na visão da Atos, Journey 2020.
A economia dos dados
Um aspeto chave da era digital é que alguns tipos de dados são tratados como ativos e estão sujeitos a transações de maneira semelhante à moeda fiduciária habitual. Assim, será necessário um meio para estabelecer contratos inteligentes que validem este tipo de transações. O Blockchain pode ser parte da solução e, por conseguinte, aplicável em quase todas as indústrias, desde o fabrico (para a autenticação de transações na cadeia de fornecimento) até aos meios de comunicação e à indústria de conteúdos (para a gestão de direitos digitais – DRM). A Atos aplicou-o numa plataforma de fabrico digital para verificar transações de modelos virtuais para impressão 3D ou para assegurar que se conserva a rede de frio no transporte de alimentos. À medida que os ecossistemas de transações evoluem na Internet das Coisas, será crítico estabelecer confiança entre entidades de forma natural, originando assim mais negócio.
O que é o Blockchain
O Blockchain é um registo público de blocos de transações validados e auditados segundo um protocolo definido. É protegido por criptografia e é distribuído entre uma rede de utilizadores que funciona por consenso. Ao “comprometer” transações no registo requer a validação de uma nova cadeia de blocos no final desta, de acordo com o protocolo “de prova”. As transações podem refletir simples transferências de ativos ou contratos condicionais ou de execução automática mais complexos (contratos inteligentes).
O Blockchain de Bitcoin utiliza cálculos de hash num esquema de “prova de trabalho”, o que torna difícil e dispendiosa a extração de novos blocos, mas também praticamente impossível alterar o conteúdo da cadeia. Outras variantes de Blockchain propõem esquemas de “prova de participação”, onde os direitos dos utilizadores são definidos pela quantidade de moeda acumulada. Ambos os sistemas têm os seus pontos fortes e fracos.
Os Princípios do Blockchain
- Sem confiança: o protocolo do Blockchain possibilita transações entre partes sem relacionamento ou confiança prévia.
- Distribuído: o Blockchain é copiado e validado por muitos nós semelhantes.
- De parte a parte: não existe autoridade central envolvida nas transações e, consequentemente, não existem custos de intermediação.
- Imutabilidade: a segurança criptográfica e o consenso da comunidade deixam poucas probabilidades às fraudes, manipulação ou coerção.
- De código aberto: nenhuma entidade individual pode controlar o protocolo para seu benefício.
Os Desafios do Blockchain
- Sustentabilidade: a variante “prova de trabalho” do Blockchain requer uma capacidade de computação elevada e dispensiosa.
- Volatilidade: as valorações dos Bitcoin já demonstraram ser bastante voláteis, em comparação com as principais moedas fiduciárias. Se o seu valor afundar, talvez como resultado de falhas de segurança, regulamentação inesperada ou perda de confiança, o Blockchain poderia deixar de ser extraído e fracassaria.
- Integridade: o Blockchain baseia-se em criptografia muito segura para manter a sua integridade. Algumas tecnologias emergentes, como a computação quântica, poderiam fazer com que os actuais esquemas de criptografia sejam vulneráveis a ataques.
- Capacidade: actualmente existem limites ao volume de transacções que podem comprometer algumas operações em Blockchain. Isto poderia limitar a viabilidade de alguns casos de uso, especialmente no caso de operações automáticas num ambiente da Internet de las Coisas.
- A falta de governance e proteção: na actualidade, no caso do Blockchain público, existe pouca ou nenhuma proteção para os utilizadores que requerem algum tipo de reembolso ou compensação por uma transação. Se o Blockchain vai ser utilizado para facilitar as transações em indústrias regulamentadas, isso será resolvido.
Sidechain
O conceito de “Blockchain Privado” ou “Sidechain” (cadeia lateral) pode ajudar a resolver alguns dos desafios delineados e impulsionar numerosos casos de negócio. Mas dependendo da abordagem adotada, poderão ser exigidos compromissos em alguns dos princípios básicos. Por exemplo: uma entidade poderia usar um Blockchain privado para manter um registo de transações específicas dos seus produtos e serviços. O registo poderia distribuir-se a uma rede de pares que funcionem por consenso, mas o processo poderia ser gerido por um “administrador central” que garanta a capacidade e sustentabilidade e que facilite o governance. Também é possível prever que consórcios de concorrentes estabeleçam “cadeias comunitárias” para satisfazer um requisito específico de mercado com um conjunto adaptado de protocolos e processos.
Conclusão
O interesse dos bancos, dos governos e da indústria aumenta cada vez mais, provocando investimentos cada vez maiores nesta tecnologia. Se forem aplicados os níveis adequados de governance, poderá ser originada uma grande quantidade de casos de uso práticos. A Atos realizou provas de conceito em vários setores e também impulsiona novos casos de negócio na edição 2017 do concurso internacional IT Challenge. O Blockchain e os seus derivados têm potencial de converter-se num dos principais meios de autenticação de transações de processos de negócio e a sua adopção poderá ser generalizada até 2020.